A actividade lúdica da criança é um dos aspectos mais genuínos do comportamento infantil.
O jogo pode ser visto como um marco de referência cultural e de uma aproximação genética, como a expressão do procurar o outro, mais precisamente, a expressão do procurar o adulto (a quem a criança procura imitar ou contrariar) e ao qual, em seguida, substitui pelas regras do jogo.
Até aos 5 anos podem observar-se crianças que jogam em grupo, contudo e apesar de jogarem juntas, cada uma joga em separado.
Dos 6-10 anos: grupos de jogos competitivos (carácter heterogéneo: muitas vezes os pequenos apenas admiram os maiores, para só depois serem aceites nesse mesmo grupo).
Com o desenrolar do crescimento, nasce gradualmente a disciplina na actividade lúdica. No início existe apenas um respeito pela ordem exterior, isto é, há um gosto pelos ritmos, pelas repetições, etc. Com a evolução em direcção à ordem, opõe-se o egocentrismo e a impulsividade da criança. A ordem, a regra e a disciplina vão-se infiltrando no jogo. A actividade funcional conduz à imitação. As invenções partem da analogia, as tradições são duradouras (ex: canções infantis, onde também há a manifestação da herança adulta).
É possível classificar os brinquedos em: brinquedo completamente pronto, simples ou mecânico (ex: carrinhos), que tem como finalidade que a criança brinque realmente, consiga efeitos, construa, faça combinações; brinquedos feitos aos poucos, que a própria criança deve completar (ex: quebra-cabeças), que têm como finalidade, levar até ao fim aquilo que começou; material de jogo (ex: plasticinas), sendo que a finalidade deste ultimo seja a compreensão da utilidade de cada brinquedo e que aprenda a cuidar deles.
A actividade funcional da criança (marcha) possui um carácter pré-lúdico que adquire o seu valor completo, somente em relação com a sua satisfação social. O jogo tem valor na aquisição do sentido social somente se não for desprezado pelos adultos.
Muitas vezes, o significado dos jogos que a criança pratica apresenta um carácter defensivo e projectivo da sua realidade interior. Existem vários exemplos dessa defesa, a saber: menino que se entrega a exageros guerreiros, permite, em certa medida, controlar o medo que sente; menina que brinca com as bonecas, pode aprender, neste jogo, a controlar o seu medo e a culpa que sente pela mãe, uma vez que esta é vivida como uma rival edípica; brincar aos médicos, é uma modalidade de identificação narcisista, isto é, a criança experimenta ela própria, sobre o outro, em particular sobre o adulto que a ele se presta, os perigos que o doutor que a atende a faz correr.
O jogo, considerado sob o ângulo da aprendizagem das funções sociais, mostra que as particularidades da relação com os pais são uma parte contributiva importante no fenómeno da transmissão cultural.